O mundo NÃO é bipolar

Criar esse espaço é um desejo antigo, desses que a gente vai adiando, mas hoje, com as férias da minha psiquiatra, senti uma necessidade maior de um ambiente onde pudesse despejar minhas angústias, lamentos, seja o que for (espero que alegrias também) sem o peso da identidade, do julgamento. Não, eu não me chamo Ana Costa. 

Depois de receber o diagnóstico da bipolaridade, no início de 2009, experimentei uma sensação de tristeza e alívio simultâneos. Estava mergulhada numa depressão grave e foi isso que me levou, pela primeira vez, a uma consulta com uma médica psiquiatra, depois de uma maratona que posso relatar noutra ocasião. A tristeza, para quem já estava deprimida, falou até mais baixo que o alívio de saber que o que eu sentia poderia ter tratamento. 

Na ocasião, vivia um relacionamento conturbado, permeado de ciúmes, brigas e sobre o qual, provavelmente, falarei aqui também. Achava, pois, que estava diante da salvação após esse diagnóstico. Mas não estava. Não posso falar por todos os bipolares, mas a minha vida é ainda permeada por uma luta permanente contra essa maldita doença. 

Da primeira delas, eu desisti: convencer as pessoas sobre o meu problema. Antes de ter minha primeira crise depressiva grave, quando mal conseguia reunir forças para me levantar da cama, quase sempre fui uma pessoa marcada pela alegria, bom humor e tive crises eufóricas de longa duração sem que ninguém desconfiasse. Eu era muito "alto astral". 

Assim, essas mesmas pessoas que nunca acharam que eu estava eufórica, incluindo familiares, não aceitam que minhas oscilações sejam motivadas por um transtorno, uma desordem. A maioria delas acredita que, na verdade, não tenho nada. Um de meus melhores amigos, quando toco nesse assunto (tocava, porque não falo mais) me diz que quando eu parar de tomar meus medicamentos, ficarei boa de tudo, porque sou perfeitamente normal. Ele me conheceu eufórica. 

De lá pra cá, iniciei um relacionamento altamente complicado e recaiu sobre meu ex-namorado a responsabilidade por eu ter "pirado", já que meu diagnóstico aconteceu enquanto estávamos juntos. É bem verdade que nossos desentendimentos, minha insegurança em relação a ele, sua falta de respeito comigo, a extrema imaturidade dele, que aos 40 se comportava como um moleque de 15 em muitas e importantes horas, funcionavam como gatilhos para crises. Mas não motivaram minha doença. 

Acredito tê-la herdado de minha mãe, que sofria com o mesmo mal, na ocasião chamado de psicose maníaco-depressiva. Nome que, aliás, considero mais adequado, embora menos "palatável". Me incomoda um pouco quando escuto coisas como "o mundo é bipolar". As pessoas não sabem o que estão dizendo. 
1 Response
  1. Anônimo Says:

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